Paulo Orione, 20 anos, nunca teve carteira de trabalho assinada nem está procurando emprego. Mas isso não é motivo de preocupação para os pais dele. O estudante de Administração faz parte do exército de 1,5 milhão de brasileiros com idade entre 16 e 24 anos que está no comando da própria empresa. São jovens, em sua maioria representantes da chamada nova classe média, que escolheram arriscar e viraram chefes antes mesmo de serem empregados.
Em Santa Catarina, os setores de tecnologia e prestação de serviços são os que mais atraem os novatos. Uma geração que passou a adolescência ouvindo histórias de Steve Jobs, fundador da Apple, e Mark Zuckerberg, do Facebook, que com boas ideias e muita coragem criaram gigantes e lucrativas empresas. E hoje, entrando no mercado de trabalho, essa geração ainda sonha com isso.
Pesquisa do Instituto Data Popular mostra que além do 1,5 milhão de empreendedores brasileiros que têm idade entre 16 e 24 anos, outros 22 milhões de jovens da mesma faixa etária desejam abrir um negócio próprio. O principal motivo para 46,4% deles é poder fazer o que gosta, revela o estudo. O caso de Paulo Orione é um exemplo típico. Vivendo em Florianópolis há 10 anos, o jovem, natural de Cuiabá, capital de Mato Grosso, chegou a fazer um estágio em uma corretora de seguros por seis meses.
– Mas era muito chato. Não tem estágio que vá oferecer a mesma experiência que estou vivendo agora, e é um prazer estar trabalhando – compara o jovem empreendedor.
Orione e o amigo de faculdade Gustavo do Valle Pereira, 21 anos, montaram a Decora.do em outubro do ano passado, uma empresa que faz o meio de campo entre clientes que querem renovar o visual de um espaço e decoradores de todo o país.
Hoje, além dos dois sócios, a empresa tem três funcionários e está instalada na incubadora Whapp, em Florianópolis, que ajuda a equipe da Decora.do a resolver os problemas de quem está começando.
Intercâmbio com veteranos
Orione e Pereira seguem estudando mas, além da faculdade, buscam na conversa com outros empresários (jovens e veteranos) um aprendizado complementar que poderá auxiliá-los. O presidente do Conselho Estadual do Jovem Empreendedor de SC (Cejesc), Marcelo Noronha, diz que essa troca de experiências é muito comum e produtiva. Hoje, o Cejesc reúne cerca de mil jovens em 50 núcleos setoriais e promove, uma vez por mês, visitas técnicas a empresas consolidadas.
O diretor da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Bernardo Castro, vai além e defende que o ideal é ter um sócio mais experiente que faça parte da rotina operacional da nova empresa. Ele reconhece que, em Florianópolis, a presença de jovens no comando das empresas é grande e que o principal fator positivo deste cenário é “a vitalidade e a vontade de fazer acontecer”, demonstrada por essa turma. Mas lembra que empreender é caro e que o índice de fracasso ainda é grande. Por isso, para ele, formar uma sociedade combinando a disposição dos novatos com a experiência dos veteranos parece ser o caminho mais indicado rumo ao sucesso e, mesmo assim, cercado de riscos.
Falência traz ensinamento
Aos 24 anos, João Selarim está à frente de sua segunda companhia. Ele trabalhou como programador antes de montar uma empresa de software que fechou as portas precocemente. Hoje, é sócio da SmartMob, um escritório de coworking da Capital que aluga espaço físico e equipamentos para profissionais autônomos e pequenas empresas.
Formado em 2008 na graduação em rede de computadores, ele usou todas as economias na primeira empresa. A falência não o desmotivou:
– Faz parte do aprendizado. Queria fazer tudo muito perfeito. Deveria ter focado mais no lado comercial, em vender o produto. Muita gente passa por isso. Mas sou novo e a hora para arriscar é agora.
Para Cristina Bunn, 21 anos, a vontade de abrir uma empresa sempre foi tão forte que ela sequer fez a carteira de trabalho. Junto ao amigo Cláudio Mendes, 20, que conhece desde o ensino médio, ela criou a empresa Grão Digital, que presta serviços de webdesign e marketing digital e, por enquanto, utiliza as instalações da SmartMob.
A Orquestro também é cliente da SmartMob. Trata-se de uma empresa criada por três amigos que ajuda seus clientes a criar projetos digitais e a lançar seus produtos na web. Bruno Bertolini, um dos sócios, tem 24 anos e chegou a trabalhar como desenvolvedor de softwares antes de montar o próprio negócio. Como a empresa não tem estrutura física própria, a largada exigiu mais disposição do que dinheiro.
A melhor dica é planejar
Entre os fatores que estão impulsionando o empreendedorismo entre os jovens, o presidente do Conselho Estadual do Jovem Empreendedor de SC (Cejesc), Marcelo Noronha, aponta uma geração crescendo com acesso a internet, e a facilidade de crédito para financiar os novos negócios. E este cenário favorável deve continuar nos próximos anos, acredita o gerente de mercado do Sebrae-SC, Spyros Diamantaras. Ou seja, ainda dá tempo para buscar o suporte e as parcerias necessárias para tirar aquela ideia do papel. Mas Diamantaras destaca a importância do planejamento do novo negócio. Ele considera que as universidades estão atentas ao novo cenário e focando também a formação do lado empreendedor dos atuais estudantes. André Sakai, 24 anos, teve a sorte de conviver desde cedo com o comércio. Os pais dele fundaram a loja Maria Sakai, em Florianópolis, empresa da qual hoje é sócio. Formado em Administração, ele começou a trabalhar aos 19 anos e hoje comanda as finanças da loja.
– Tive oportunidades de assumir muito mais responsabilidades aqui do que teria em qualquer outra empresa que eu trabalhasse. Foi um grande aprendizado na prática. Hoje, tenho muita liberdade para planejar o futuro da loja – avalia André.
Fonte: Diário Catarinense
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